quarta-feira, janeiro 18, 2006 |
«FORCADO AMADOR» - Opinião com "farpas" |
No abismo do vazio
Desapareceram, como que num ápice, sem sequer nos terem dito em concreto ao que vinham. Durante a campanha, esboçaram sorrisos, puseram o melhor fato, fizeram-se acompanhar por gente ingénua e distribuiram bonés, autocolantes e sacos de plástico. É a «política plastificada» no seu melhor. Das Autárquicas em Salvaterra, pouco ou nada restou. Os discursos de boas intenções, proferidos por todas as frentes, arrastaram-se pela corrente do esquecimento. É a «política da amnésia».
Os sonantes candidatos (cujas promessas se encaixavam quase que no domínio do paranormal) depressa se converteram em pessoas aparentemente normais, voltando ao exercício das suas funções - das quais nunca deveriam ter saído. Mais uma vez, voltaram a colocar as vestimentas no guarda-fatos, mandaram os discursos apocalípticos para o caixote do lixo e resolveram desinfectar-se de todas as promessas faraónicas que nos inundaram as caixas de correio. É a «política da mentira», suportada em panfletos pagos pelos contribuintes e em outdoors manchados por slogans baratos.
Resta-nos a presidência da Câmara Municipal de Salvaterra de Magos, eleita por um povo míope, que não distingue um fundo comunitário de um peditório de igreja e que, numa atitude sado-masoquista, considera que Anita é a salvadora da pátria. Por tradição, e em geral, os portugueses são mesmo assim; corre-nos no sangue; faz parte da nossa tradição e da nossa cultura. Num país que nasceu com um rei a bater na mãe e numa nação que, volvidos 30 anos, ainda fala das conquistas de Abril (sem demérito para tal feito), insistimos em revolver o passado sem termos sequer a coragem de encararmos os desafios do presente.
Ser-se cidadão no concelho de Salvaterra é viver em permanente estado crónico, cujas feridas teimam em sarar. Faz-me azia pensar que Salvaterra de Magos é, cada vez mais, uma terra que vive na sombra, que não consegue sair da cepa torta, que os ditos actores políticos e associativistas locais se limitam a assumir uma postura de taberneiros, sem ambições, sem obra feita, esperando subsídios, assistindo ao passar dos dias impávidos e serenos, na ânsia de lhes ser reconhecida alguma notoriedade por algo que nunca fizeram nem se esforçam por fazer.
Não é propriamente lisojeante ser-se português, mas é mesmo muito mau ser-se salvaterrense. Ficamos derretidos por um simples aceno da senhora presidente, ficamos agradados com uma excursão ao Alentejo, batemos palmas por um espectáculo rupestre de folclore, adoramos ver milhares de euros esbanjados em pavilhões às moscas (quando há escolas em condições degradantes), ficamos contentes por ver uma estradita pavimentada.
É a vantagem de se ser míope: ficamos contentes com qualquer coisa, não damos dores de cabeça ao poder e até - imagine-se! - acabamos por dar a vitória aos que nos aumentam a cegueira. Que este povo não tenha o descaramento nem a ousadia de se queixar. Se nos fecharem o posto médico, se cair mais uma escola, se houver lixo espalhado por tudo o que é terreno baldio, se houver estradas pavimentadas à pressão, se não existirem espaços lúdicos e dignos, se o desemprego continuar a subir, se as margens do Tejo continuarem a ser subaproveitadas, se as zonas industriais continuarem por surgir... Não se queixem. Porque, afinal, houve quem lhe tivesse dado a maioria absoluta. E eu não dei para esse peditório.
Assina o saudoso «FORCADO AMADOR»
|
Postado por José Peixe @ 15:48 |
|
|
|
|