Não houve sobreviventes em São Paulo
CREMATÓRIO COLECTIVO
Uma História a ter em conta
"Há cerca de uns 15 anos eu sugeri ao meu pai que vendesse seu armazém (antes de nome CNAGA e, após COPENAG), sito na Av. Washington Luiz, em frente ao aeroporto de Congonhas, exatamente por essa razão. Caso houvesse algum avião, (e não foram poucos que chegaram próximos), que porventura viesse aterrissar direto em nosso armazém, o seguro não cobriria todo tipo de mercadoria que tínhamos sob nossa guarda. Vendemos. A TAM comprou.
Transformou o armazém na TAM Express. Hoje assisti o trágico desastre (?) de MAIS UM ACIDENTE com tal empresa aérea, com participação indireta da INFRAERO, uma das empresas política-governamental mais INEFICIENTE que existe há muitas décadas neste país onde políticos aproveitam do sofrimento alheio para se promover.
Em puro engodo emocional e político, Lulla decreta luto oficial ... Chinagllia corre para aparecer na TV visando próximas eleições. José Serra diz que tinha amigos a bordo da aeronave.
A empresa distribui o n° de telefone 0800117900 para informações, e há exatamente três horas que, ligando, eu só escuto que os operadores estão em atendimento; aguarde para ser atendido. E eu, que tenho uma irmã comissária de bordo, fico sem saber seu destino, ou de suas colegas.
Só faltava a secretária eletrônica dizer: "se quiser saber se seu familiar foi carbonizado, aperte 2; se morto por asfixia, aperte 3; se morto derretido pelos mais de mil graus de temperatura após a explosão, aperte 5; se desmembrado devido ao impacto de mais de 190 km/h no prédio de concreto, aperte seu amigo mais próximo em abraço consolador, pois não há nada que possamos fazer – se quiser ouvir novamente esta estúpida mensagem, aperte ZERO".
No Vôo JJ 3054 do Air Bus 320, onde 176 seres humanos entre bebês, e adultos de todas profissões que foram mortos, aparecem médicos dando seus nomes e entrevistas na TV dizendo que tem expectativa de: "... lá no fundo, ainda haver alguém que precise de sua ajuda ..." – apesar de lá estar na telinha enquanto outros carregam corpos em meio a chamas que há mais de seis horas não se consegue controlar apesar de todo efetivo da Cia. do Corpo de Bombeiros.
Assistindo, pasmo, a todo esse estardalhaço em cima da desgraça dos outros em canais que visam atingir altos níveis no IBOPE, vejo um bombeiro que estava no local; era o mesmo bombeiro que me pediu uma propina quando, certa vez, eu montei um estande em uma feira no Anhembi, "para que eu pudesse ter meu estande protegido contra o fogo, se algo acontecesse durante a noite (a feira duraria três dias)". Meu coração ficou amuado. Só falta algum repórter vir dizer que os falecidos estão bem, pois foram para uma melhor, mesmo que destroçados, carbonizados, sufocados, logrados pela certeza que tinham de serem levados seguramente aos seus destinos. Acidente? Se depois deste breve relato ainda acham que essas coisas são meros trágicos acidentes, e não irresponsabilidades administrativas, políticas, malandragem brasileira, falta de educação das porcas escolas vagabundas de um governo medíocre onde cidadãos conscientemente vendem seus votos para ladrões e trambiqueiros, então esta sociedade está mais doente do que imaginei.
Enojado, antes de desligar a TV, reparei no pobre negro que tentava adentrar o local do acidente para pegar uns pedaços de alumínio e levar para reciclar junto com sua coleção de latinhas que divide espaço em sua carroça que não é um animal que a puxa. Ou é? Daqui a uma semana, isso só será estatística. Os programas humorísticos estarão fazendo comédia de mais uma outra tragédia social brasileira, como ocorre com o acidente da TAM em Congonhas há anos passados, onde o pai da ex-esposa de um amigo meu morreu.
E o brasileiro covarde que se orgulha de ser pacífico e manso, continuará a perpetuar esse Dantesco quadro nacional. A TAM irá indenizar, após uns vinte anos de processos judiciais. Dizem que a ex-esposa desse meu colega gastou a indenização recebida em acordo com a empresa, em roupas de luxo. Em tempo, próximo ao catador de alumínio, aproximava-se, coincidentemente ou não um carro com um adesivo que parecia dizer: "Consulte sempre um advogado".
Me pergunto se era algum amigo de assessor de algum deputado morto nos escombros da aeronave, ou se era alguém que indicou alguém que defendeu o tal político do dollar nas cuecas (passagem essa de incontáveis piadas que não param de abarrotar a mídia humorística), ou se simplesmente era um carro roubado dentre aqueles que o são a cada três minutos nesta cidade. Parece, mas não é mais um capítulo de "LOST", aquele ridículo enlatado americano que muitos acompanham. É mesmo a sociedade em que vivemos.
Vou parar meu desabafo aqui para não começar a falar da ineficiência das Forças Armadas, especialmente dos comandantes da Aeronáutica que permitem que controladores de vôo não obedeçam uma corrente de comando, e propiciam uma famosa prostituta sexóloga a recomendar:Problema aéreo? "Relaxa e goza".' Sem mais para o momento", Sergio Marques Moderador do e-Juristas e-juristas-subscribe@yahoogrupos.com.br |
Os meus mais profundos pêsames vai para com os familiares das vítimas deste acidente, no entanto este texto quando aborda as questões político-sociais, enquadra-se perfeitamente naquilo que acontece também neste meu portugal (com letra pequena evidentemente, não pelo povo que deu mundos ao mundo, mas pelas decisões que “democraticamente” permitimos).
Zeca Afonso deixou-nos escrito o seguinte: … e nós neste país, somos tão pouco corajosos que qualquer dia (está a acontecer) estamos reduzidos à condição de “homenzinhos” e “mulherezinhas”. Temos é que ser GENTE.