Eleições Autárquicas 2005 PSD VENCEU E COMUNISTAS SUBIRAM "RENEGADOS" ARRASAM E PS PERDEU
O PSD (Partido Social Democrata) venceu as Eleições Autárquicas de domingo, que ficaram marcadas por vitórias folgadas de candidatos independentes "renegados" pelos respectivos partidos por estarem a contas com a Justiça. Numas eleições cujo apuramento oficial dos resultados esteve interrompido durante cerca de três horas, devido a uma falha informática, o PSD estava em vias de reforçar a condição de partido com mais presidentes de câmara municipal (128 quando faltavam apurar 20 concelhos, contra 133 no total em 2001) e manteve as lideranças dos maiores concelhos, como Lisboa (Carmona Rodrigues), Porto (Rui Rio) e Sintra (Fernando Seara). Os sociais-democratas haviam alcançado ainda 19 outras presidências de câmara, em coligações com o CDS/PP, PPM ou MPT, quando estavam por apurar 20 concelhos. O PS, partido do Governo que obteve uma maioria absoluta no Parlamento há cerca de 8 meses, nas legislativas de Fevereiro, perdeu três presidências de câmaras, designadamente as de Aveiro e Santarém (para o PSD), face às autárquicas de 2001, mas mantinha-se como o partido individualmente mais votado, com 1.890.392 votos, 35,86 por cento, contra 1.477.757 votos, 28,3 por cento, do PSD, quando estavam por apurar 20 concelhos. No entanto, se somados os votos obtidos pelo PSD individualmente com os alcançados pelas coligações integradas pelos sociais-democratas, o PS passa a ser a segunda formação mais votada. Uma das poucas vitórias relevantes do PS foi em Faro, onde José Apolinário afastou José Vitorino (PSD) da presidência da câmara capital de distrito. A CDU (coligação PCP/PEV) foi outro dos vencedores das autárquicas de domingo, tendo reforçado o número de presidências de câmaras (já tinham 32 a 20 concelhos do fim do apuramento dos resultados, contra um total de 28 em 2001), recuperando (ao PS) alguns dos seus bastiões, casos do Barreiro, Marinha Grande, Alcochete e Sesimbra. O Bloco de Esquerda subiu em número de votos (quase triplicou), face a 2001, manteve a única presidência de câmara (Salvaterra de Magos), elegeu Sá Fernandes para a vereação da câmara de Lisboa, mas falhou a eleição do seu candidato no Porto. O CDS/PP perdeu, em relação às autárquicas de 2001, não apenas em número de presidências de câmaras (tinha três e ficou apenas com uma, a de Ponte de Lima), como em número de votos (3.05 por cento quando faltavam apurar 20 concelhos, contra 3,76 por cento alcançados em 2001), mas Maria José Nogueira Pinto conseguiu ser eleita vereadora na autarquia da capital. Mas as autárquicas de domingo tiveram como particularidade vitórias, algumas folgadas, de candidatos independentes sobre os adversários apresentados pelos partidos que lhes retiraram o apoio por estarem envolvidos em processos judiciais, como arguidos ou acusados. Foram os casos de Fátima Felgueiras (ex-PS) - acusada de 23 crimes no âmbito do processo designado por "Saco Azul" -, em Felgueiras, Valentim Loureiro (ex-PSD) - arguido no processo "Apito Dourado" -, em Gondomar, ambos com vitórias expressivas (maiorias absolutas) sobre os candidatos dos seus anteriores partidos, e Isaltino Morais (ex-PSD) - arguido num processo que envolve alegadas omissões nas suas declarações de rendimentos -, em Oeiras. O PS assumiu a derrota nas autárquicas, admitindo que a votação ficou "aquém das expectativas", enquanto o PSD reclamou uma "vitória expressiva", mas ambos consideraram que os resultados não afectam a estabilidade do Governo. O líder do PS, José Sócrates, reconheceu que as "altas" expectativas dos socialistas não foram confirmadas e sublinhou que os resultados autárquicos não devem ter uma leitura nacional. "O que estava em causa não era o Governo, eram as câmaras municipais", disse o primeiro-ministro e líder do PS, numa declaração na sede do partido. Os sociais-democratas reclamaram uma "vitória expressiva", mas consideraram que a derrota do PS não põe em causa o mandato do Governo. Numa declaração na sede do PSD, o líder do partido, Marques Mendes, afirmou que o "ambiente" a nível nacional influenciou a expressão dos votos, dizendo, contudo, que os resultados "não afectam a estabilidade política e o mandato que o Governo tem para governar". Marques Mendes interpretou a "grande vitória" do PSD nas eleições autárquicas como o "início da reconciliação" dos portugueses com o partido. Para o secretário-geral dos comunistas, Jerónimo de Sousa, os resultados autárquicos são um "sério aviso ao PS e às políticas do seu Governo". Jerónimo de Sousa, que se mostrou satisfeito com a prestação da CDU, destacou a vitória da coligação em câmaras como Barreiro, Marinha Grande, Sesimbra, Alcochete, Barrancos e Peniche e sublinhou que os resultados "abrem perspectivas para novos avanços em próximas eleições autárquicas". Já o presidente do CDS-PP, Ribeiro e Castro, destacou a "clara vitória do centro-direita" e elegeu o PS como o "grande derrotado" das autárquicas. "O saldo nacional traduz-se numa clara vitória do centro- direita, para a qual o CDS-PP contribuiu fortemente. O grande derrotado é o PS", disse Ribeiro e Castro, defendendo ainda que o seu partido está em condições de preparar as legislativas de 2009. O coordenador do Bloco de Esquerda (BE), Francisco Louçã, considerou o primeiro-ministro como "o grande derrotado" das autárquicas e apelidou os resultados como "piores que a grande derrota de 2001" para o PS. "O Governo sai fragilizado e a sua política sai castigada destas eleições", disse Francisco Louçã, acrescentando que "José Sócrates deve tirar conclusões e consequências claras" destes resultados. Na sua interpretação de resultados, Louçã salientou o facto de o Bloco de Esquerda "sair reforçado, multiplicando a sua votação nas assembleias municipais e de freguesia, mantendo a maioria em Salvaterra de Magos e conseguindo vitórias significativas, sendo a de Sá Fernandes em Lisboa a mais importante". ARP/RM Lusa/ |