Excerto do discurso do deputado social-democrata Miguel Macedo, há pouco mais de 5 meses, na Assembleia da República:
"(...) Rotineiramente implacável na acusação e ligeiro na condenação, o Bloco de Esquerda atropela argumentos para justificar a manutenção do seu apoio à Presidente da Câmara de Salvaterra de Magos, arguida num processo por corrupção no exercício do seu mandato. O Bloco é um caso de dupla personalidade. Aqui, em Lisboa, acusa e exige. Lá, em Salvaterra de Magos, protege e silencia. Aqui em Lisboa, proclamam as virtudes do que designam por ética republicana. Lá, em Salvaterra de Magos, agarram-se ao poder e mandam às malvas a ética republicana. É mesmo caso para citar o povo: bem prega Frei Tomás, olha para o que eu digo não faças o que eu faço!..." As palavras do deputado Miguel Macedo nunca foram tão pertinentes. Quando surgiu, o Bloco de Esquerda prometia ser diferente, ousado e irreverente. Hoje, o BE não passa de mais um partido político (e com a destreza de servir como barriga de aluguer). O cansaço do BE reflecte-se, de resto, em toda a ala esquerda. Atente-se no caso peculiar do Partido Socialista: comparados com os timoneiros actuais, os «velhos do restelo» não passam de figuras caquécticas. Os ideais de outrora deram lugar a métodos pouco ortodoxos para controlar quaisquer movimentos considerados hostis. O governo socrático colocou em marcha uma poderosa máquina propagandística (um verdadeiro polvo com tentáculos prensados nos mais variados quadrantes da vida social e económica). Convenhamos que nem o lobby maçónico faria melhor. Resta-nos a pobreza de uma direita anorética (engravatada no estilo e despida de novas ideias e conceitos). Ou ainda o radicalismo. É um extremo que certamente tenderá a ganhar espaço. Não admira, por isso, que alguns desses protagonistas tenham sido transformados em prisioneiros políticos... |