A barbárie
Ao entrar na arena, os touros vão já enfraquecidos e feridos. Os cornos são serrados a sangue frio. O pânico do touro é tão grande que, se pudesse, fugiria daquele cenário aterrorizador. É possível observar a expressão de medo e confusão dos touros sempre que entram na arena. As bandarilhas e os ferros (que podem ter comprimentos variáveis entre os 8 e os 30 cm) têm arpões afiados nas pontas para se prenderem à carne e aos músculos. Os tecidos rasgam, provocando um sofrimento atroz, febre e perda de sangue. A matança que se segue ao espectáculo, já longe do olhar do público mórbido, é também digna de um filme de terror.
A Lei n.º 92/95 de 12 de Setembro, que apresenta a epígrafe “Protecção aos animais” (e que constitui o documento legislativo actualmente mais ambicioso no domínio da protecção animal,)dispõe do seguinte:
1 – São proibidas todas as violências injustificadas contra animais, considerando-se como tais os actos consistentes em, sem necessidade, se infligir a morte, o sofrimento cruel e prolongado ou graves lesões a um animal.
No artigo 3.º, sob a epígrafe “Outras autorizações”, o ponto 2 dispõe: “A touradas são autorizadas nos termos regulamentados”.
Confrontando este último artigo (artigo 3.º 2.) com todas as alíneas do artigo 1.º, revela-se evidente a existência de uma excepção no domínio dos maus-tratos aos animais: os espectáculos tauromáquicos. Quaisquer que tenham sido os motivos por detrás da elaboração do disposto no artigo 1.º, o certo é que visam, acima de tudo, devolver princípios básicos aos animais (e atribuir-lhes direitos que correspondem a deveres da nossa parte). Assim sendo, é incongruente atribuir uma excepção em domínio de valores fundamentais, quando esta dispõe precisamente em sentido contrário, atentando contra os mesmos. Portugal continua a ser um país de contrasensos. E o povo aplaude... |
O homo sapiens (tem animal mais perigoso do que ele?) nem ao menos respeita os seus semelhantes (sapiens...), o que dizer das outras espécies do planeta?
Como diz a minha mãe, 'a coisa tá osca e vem se debruçando'...
Contrasenso não é privilégio de Portugal. O mundo é feito de 'contras'. Infelizmente.