Depois de ver e ouvir a mensagem de natal do senhor Pinto de Sousa, a dizer que a crise orçamental está vencida, veio-me à memória o manifesto anti-Dantas de José de Almada Negreiros, poeta d’Orpheu. Segue-se um excerto do mesmo, ligeiramente modificado: Uma geração que consente deixar-se representar por um S. é uma geração que nunca o foi. É um coio d'indigentes, d'indignos e de cegos! É uma resma de charlatães e de vendidos, e só pode parir abaixo de zero! … Uma geração com um S. a cavalo é um burro impotente! Uma geração com um S. ao leme é uma canoa em seco! … O S. é meio cigano! … O S. é um habilidoso! … Não é preciso ir pró Rossio (S. Bento) para se ser pantomineiro, basta ser-se pantomineiro! Não é preciso disfarçar-se para se ser salteador, basta ser como o S.! Basta não ter escrúpulos nem morais, nem artísticos, nem humanos! Basta andar com as modas, com as políticas e com as opiniões! Basta usar o tal sorrisinho, basta ser muito delicado, e usar gravata e olhos meigos! … O S. é um autómato que deita para fora o que a gente já sabe o que vai sair... O S. é um soneto dele próprio! O S. em génio nem chega a pólvora seca e em talento é pim-pam-pum. Se o S. é português eu quero ser espanhol! O S. é a vergonha da intelectualidade portuguesa! O S. é a meta da decadência mental! E ainda há quem não core quando diz admirar o S.! E ainda há quem lhe estenda a mão! E quem lhe lave a roupa (suja)! E quem tenha dó do S.! E ainda há quem duvide que o S. não vale nada, e que não sabe nada, e que nem é inteligente, nem decente, nem zero! E fique sabendo o S. que se um dia houver justiça em Portugal… E fique sabendo o S. que se todos fossem como eu, haveria tais munições de manguitos que levariam dois séculos a gastar. … Portugal que com todos estes senhores (e muitos outros) conseguiu a classificação do país mais atrasado da Europa e de todo o Mundo! O país mais selvagem de todas as Áfricas! O exílio dos degradados e dos indiferentes! A África reclusa dos europeus! O entulho das desvantagens e dos sobejos! Portugal inteiro há-de abrir os olhos um dia – se é que a sua cegueira não é incurável e então gritará comigo, a meu lado, a necessidade que Portugal tem de ser qualquer coisa de asseado!
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Porra parente que aqui tu tavas todo brabezas! Na perdoas a ninguém. E ouve lá, aquele S é pró Sócrates na é? Tens porras ó parente. Aproveitaste o Zé Almada Negreiros pra dar porrada nesta malta toda. E olhha que ele tinha razão á parente. Tava cheinho de razão. Tanto que tava que resolveu escrever aquele manifeste!
Desejo-te uma boa passagem d'ano ó parente!
Memo Certo.