CEIFA PÓS -MODERNA Longe vão os tempos em que os ranchos de mulheres e homens da Lezíria Ribatejana se espalhavam em amontoados, antes do raiar do sol, para ceifar com orgulho e valentia, os arrozais do Paúl de Magos. Desses tempos apenas restam as memórias fotográficas que o meu conterrâneo e Amigo Roberto Caneira tem publicado e bem, no seu Blogue dedicado à vila de Glória do Ribatejo - Uma Glória do Mundo. www.agloriadomundo.blogspot.com Hoje, a Lezíria Ribatejana é invadida pelas ceifeiras mecânicas que durante 24 horas, sem parar, devoram os arrozais do Paúl de Magos. São aquilo a que nós podemos apelidar das ceifas pós-modernas. Para recordar, aqui fica um nicho de prosa do Alves Redol. Uma prosa que retrata bem a azáfama agrícola de outros tempos: «(...) E seguiam-se ranchos de ceifeiros, a cantar; mulheres com foices, homens com gadanhas, e logo o carro do pão, carregado de medas de trigo, com duas juntas de bois da terra, de cornos pintados com tinta doirada, chocalhos grandes e badalar gravidade, a que parecia atrelar-se o carro da cortiça, rodeado do pessoal do trato, e o do azeite e o do vinho, com mulheres da apanha da azeitona e das vindimas, capatazes e abegões, rachadores de lenha e serradores das matas, de machados ao ombro e serras agarradas por dois homens, em ceroulas e de pé descalço, caminhando à beira doutro carro lezirão carregado de toros de madeira. E mais carros, alguns de mulas, e mais gente dos pomares e dos arrozais, enquanto ao longe esperavam os gados em manada». ALVES REDOL, in Barranco de Cegos, p. 210 |