Filhos da nação
Não deixa de ser curioso as desculpas carnavalescas que se inventam para animar a elite. Numa instituição onde se decide o rumo do país, torna-se divertido atentar no desfile exasperado que alegra os escolhidos. Falo da Assembleia da República e dos deputados. Acompanhem-me neste breve exercício: no princípio do mês, o Parlamento dedicou 3 dias ao Ribatejo. Os vários espaços do Palácio de S. Bento foram invadidos por chefes de cozinha "premiados internacionalmente"; por ranchos folclóricos de província; por provas de vinho dignas de um banquete; e por sabores providenciados pelos tachos de restaurantes da região que levaram até Lisboa um paladarzinho a Ribatejo. Sem margem para dúvidas: de crescer água na boca. Não contesto a iniciativa de dar a conhecer todo o potencial artístico e gastronómico do Ribatejo aos restantes deputados fora do círculo de Santarém (porque os que foram eleitos pelos ribatejanos sabem, certamente, distinguir um cernelheiro de um rabejador). O que critico com toda a firmeza é a opção de estender este tipo de actividades somente a uma elite. É como fazermos um jantar em casa e convidarmos apenas o pessoal... lá de casa. Com uma diferença: é que as nossos lares não são geridos por fundos públicos. Devia, então, acabar-se com tais iniciativas? Não. Devia era haver coragem política para levar estas "amostras" da tradição a quem dela mais precisa. Mas sem subtilezas nem demais artifícios que só servem para regalar os tais privilegiados que servem a nação, a troco de um salário que, para muitos trabalhadores desse Portugal profundo, representa uma autêntico atentado à moralidade. Nunca vi um deputado a prestar assistência na Sopa dos Pobres ou às portas do LIDL durante uma campanha do Banco Alimentar. Talvez porque isso não se enquadra na designação de «despesas de representação»... Em vez de roteiros regionais, os parlamentares deviam experimentar (sobre)viver com o salário mínimo durante alguns meses. Talvez assim a discussão do Orçamento de Estado fosse mais lúcida e proveitosa. As mordomias dos deputados estão a anos luz da realidade do país. De nada serve argumentar que estão ali para representar o povo; para trabalhar em prol da nação; que é um trabalho de responsabilidade; que estão sentados no hemiciclo porque alguém os escolheu (erro nosso, neste caso...). O bombeiro do quartel da esquina terá, porventura, maiores responsabilidades. E a verdade é que isso não garante que a família não passe fome. Por Makliano |
Markliano, tenho quase a certeza que o deputado Nuno Antão também assinou e "pisgou-se" do hemiciclo de São Bento. Ou não! Desta vez fez questão de permanecer para provar que a presença dele na Assembleia da República é muito importante para o Ribatejo e para o concelho de Salvaterra de Magos.
Uma coisa é certa, sempre que estamos em vésperas de feriadões, os deputados assinam a presença e fogem de Lisboa a todo o vapor.
O problema não é só de agora!
Percebe Markliano?
Quanto à possibilidade de os deputados poderem viver durante vários meses com o salário mínimo, isso não passa de uma utopia.
Você acha que eles estariam dispostos a passar por tantos apertos? Não meu caro. Eles querem é festança.